solidários com movimento grego

Dia Internacional de Acção 20.12.2008
redelibertaria.blogspot.com

Ao contrário do que nos querem fazer crer os meios de comunicação, o assassinato, às mãos da polícia grega, no passado dia 6, do jovem de 15 anos Alexandros Grigoropoulos (Alexis) não foi um incidente isolado. Tratou-se, antes, duma explosão do Estado repressivo que, de forma sistemática e organizada, aponta para os que resistem, os que se revoltam, os que combatem o estado actual das coisas e a autoridade que lhe dá corpo.

(...)

Daqui, queremos deixar bem claro que não temos dúvidas sobre o lado em que estamos. Ao lado dos que apelam "não deixem este hálito flamejante de poesia atenuar-se ou extinguir-se". Solidários com os que lutam, com os detidos nos confrontos dos últimos dias, com todos os que se juntaram à mesma luta em muitos outros locais deste planeta que é nosso.



sábado, 20 dezembro 15h00 entrada livre


Junta-te ao Jantar Popular (a partir das 21h), preparado com alimentos de mercados locais e preferencialmente de agricultura biológica, e envolve-te também no Mercado de Trocas (a partir das 15h pela tarde fora) trazendo tudo aquilo que queiras e trocando por tudo aquilo que gostas. Traz uma iguaria (de preferência veggie, bio, ou regional), vê crescer o cabaz de natal e torce para que te saia a ti!


Também a partir das 15h, começam as Jornadas de Outono de Xadrez do Musas-2008. Um torneio amigável em que te podes inscrever através do email xadrezmusas@gmail.com. Consulta musas.pegada.net.


Se preferires, dedica-te à construção de instrumentos musicais (também a partir das 15h), pelos Ritmos de Resistência, recém banda de samba do Porto.




Às 20h será projectado Zero em Comportamento, de Jean Vigo (1933), com banda sonora ao vivo de Hayena Reich.




Depois de jantar, vídeos sobre a resistência na Grécia 2008.








E no entretanto...


4 comentários :

Anónimo disse...

não entendo uma coisa?
qual a verdadeira razão do assassinatio ... não me dêm respostas gravadas e paradigmáticas.
e não entendo outra! se a violênia gera violência não é pela violência que os gregos vão revirar o panorama dos MEDIA, nem a ordem capitalista no MUNDO. pelo contrário , estão a fortalecer a ideia de que somos violentos e extremitas.

CasaViva disse...

Quanto às razões do assassinato, não há respostas que te possamos dar que não sejam "gravadas". Não estávamos lá nessa altura e, portanto, tudo o que podemos saber é o que aparece nos meios de comunicação. Felizmente que, neste momento, não há apenas um tipo de media e que, às verdades veiculadas pelos do sistema, os contestatários, que têm os seus próprios media, podem contrapor a sua.

Temos, assim, duas versões do mesmo acontecimento e és, logicamente, livre para optar por uma, por outra, ou até inventar a tua própria versão, por exemplo naquela de "no meio é que está a virtude". Dum lado, tens que um grupo de jovens atacou um carro da polícia e um dos seus passageiros, sentindo a sua vida e a dos seus colegas em perigo, disparou um tiro de aviso que, infelizmente, se alojou mortalmente no corpo dum dos jovens. Do outro lado, tens que um grupo de chavalos se entretinha a insultar um carro da polícia, quando um dos bófias disparou contra eles e acertou no Alexis. Talvez se tenha passado a tal cena intermédia, em que os putos insultaram e atiraram objectos ao carro, de onde saiu um disparo direccionado ao grupo de contestatários, que acabou por colher mortalmente um deles.

Escolhe a versão que quiseres, ou decide-te por outra qualquer, mas não te esqueças que, dum lado, estava um grupo de adolescentes e, do outro, um grupo de pessoas com licença de porte de arma e autorização para a usar e que, portanto, estão treinadas para reagir de determinada forma perante situações complicadas.

Mas, na Grécia, em Inglaterra, Espanha, Itália, França e em tantos outros países da civilizada Europa, a perseguição e a repressão aos que ousam contestar as estruturas base do sistema são quase sempre rudes e, muitas vezes, altamente violentas. O controlo sobre cada cidadão é cada vez maior e nunca os poderosos tiveram tantos meios à sua disposição para saberem exactamente quem são os cidadãos que eles comandam. No entanto, sempre que a situação foge dos caminhos previamente definidos como legítimos, esses mesmos poderes têm, nas suas mãos, uma máquina de repressão mais eficaz do que algum ditador alguma vez teve. A democracia só o é para os bem instalados e os submissos. Para os outros, mais não é do que uma ditadura, onde quem manda é a economia e em que temos a hipótese de, de 4 em 4 anos, eleger o gestor da nossa preferência.

Por outro lado, o capitalismo é um sistema que se baseia na acumulação de riqueza. Ora, para que se acumule nuns bolsos, tem, necessariamente, que se evaporar doutros. O que pretendemos dizer é que o assassinato do Alexis foi, por um lado, apenas uma explosão mais violenta dum processo repressivo que está sempre presente e, por outro, tão só o detonador duma revolta latente que fez com que os que têm permitido o enriquecimento da classe dominante saíssem para a rua a exigir a sua parte do bolo.

E, como dizemos no texto que acompanhou a nossa acção de solidariedade com a sublevação grega, "o espectro da liberdade surge sempre com uma faca nos dentes". Não porque os libertários sejam naturalmente violentos, mas porque os privilegiados não abdicam dos seus privilégios sem luta... para além de que a violência, para nós, não está primordialmente nos ataques à propriedade, não se revela no partir da montra dum qualquer Millenium. Está, isso sim, na destruição ambiental e social que os investimentos e as políticas laboral e comercial desse banco provocam.

Por isso, ousamos discordar de ti, já que temos como certo que a derrocada do capitalismo não será pacífica. Serão necessárias trincheiras, armas, coragem e sangue. Não porque a revolução se queira violenta, mas porque sabemos da violência da contra-revolução.

Nós não queremos, e temos dúvidas que os revoltosos gregos o queiram, conquistar a simpatia dos media. Aqui não se trata dum movimento estudantil a exigir a demissão duma ministra em que a posição e a consequente influência dos meios de comunicação são fundamentais como estratégia. Aqui, tenta-se uma crítica mais global, um crítica radical, no sentido em que pretende atingir e resolver os problemas na sua raiz e não numa das suas ramificações. E os media não são organizações filantropas que trabalham em prol da verdade. São empresas que pertencem a grupos económicos que são, eles sim, os verdadeiros senhores do mundo, a tal classe dominante. Ora, não é de esperar que essa classe, quando em guerra com a outra, a dominada, apresente o inimigo com bom aspecto. Numa tal guerra, "conquistar" os media só tem lógica no sentido fisicamente literal do termo.

E é preciso não esquecer que são esses mesmos media que acabam por passar a mensagem, tantas vezes mesmo entre os que se solidarizam com a revolta, de que a única coisa que se passa na Grécia são saques, confrontos, pilhagens, numa palavra, destruição. Por lá, há meios de comunicação colocados ao serviço da tal outra classe, onde se fala de universidades transformadas em assembleias populares onde, todos os que querem, discutem os seus próprios futuros, media que nos trazem novas sobre, numa palavra, construção.
E com isso, com cada tentativa de erguer algo novo, mais justo, onde todos decidam sobre o que é de todos, nós estamos e estaremos sempre solidários.

Juliana disse...

"QUANDO A ARMA MATA EM DEFESA DA PAZ ( DA VIDA ) OS ANJOS CHORAM,MAS NAO CONDENAM"
Debaixo da farda existe um Ser humano,um Ser com família, com uma vida própria, com um futuro pela frente.
" O bófia " é apenas um comum mortal como cada um de nós, um comum mortal que temendo pela vida reagiu.
Sinceramente não acredito que pretendesse o desfecho trágico que veio a acontecer.
Cada um devia pensar e apelar ao seu bom senso e não ao seu pensamento ideológico para julgar quem quer que seja.
Concordo com a maioria das vossas ideologias e lutas por esse mundo fora e bem-haja quem tem esse espírito de não resignação, mas não posso concordar com apelos à violência para no fundo combater violência.
Muito obrigado

CasaViva disse...

Debaixo da farda da polícia está um ser humano, como estava debaixo da farda dum SS ou dum Gestapo, debaixo do fato do PIDE, debaixo das roupas militares dos indonésios em Timor ou dos israelitas em Gaza. Nenhuma dessas pessoas seria especialmente má, eram as condições da sua vida e as suas opções que o(s) tinham levado para o campo onde se defende o modelo em vigor. Os SS defenderiam Hitler e o nazismo, os PIDE defendiam a Pátria (do Minho a Timor) e o manholas, os militares indonésios defendiam a posse de Timor., os israelitas a sua existência física enquanto Estado. Apesar de tudo isso, apesar de, por baixo de cada um deles, estar um ser humano, com família, vida própria e um futuro pela frente, acreditamos que todos os que se levantaram contra eles, em todos os locais e por todas as formas, são merecedores da nossa solidariedade. Porque os que erguem barricadas e lutam contra a Autoridade também são seres humanos, só que muitas vezes ainda ligados aos pais por falta de capacidade económica para se autonomizar, seres humanos em que a vida própria é gasta a tentar descobrir como sobreviver e em que o futuro que deveria estar à sua frente se apresenta negro.

Claro que esta comparação entre um polícia de choque grego e um agente das SS, da Gestapo, da PIDE, ou um militar indonésio ou israelita pode parecer exagerada. Mas também será exagerado chamar violência ao que se passou e vai passando nas ruas gregas. Um dia de normalidade em Gaza, por exemplo, é infinitamente mais violento que um mês de sublevações em Atenas. E será que cada bomba israelita é mais do que a resposta dum Estado que teme pela vida? Será que querem assassinar dúzias de civis? Será que pretendem esse fim trágico? E será que isso importa realmente?

A polícia serve para defesa do Estado e dos privilégios. Pelo menos nas sociedades capitalistas. Noutras sociedades defenderá outra coisa. Mas voltemos à Europa capitalista, mais precisamente à Grécia, onde a polícia tem um registo brutal de repressão e assassinatos que vem já do tempo da ditadura militar. Existe uma história de ódio entre a população "da margem" e as forças da autoridade que, lá está, sempre existiram ao lado dos que estão no poder e, como tal, contra os que lá não estão. Foi assim na ditadura militar, é assim na ditadura democrática. A polícia é, na Grécia como cá, bem mais do que um símbolo. Representa, claro, a repressão que os privilegiados têm que manter sobre os desprivilegiados, de forma a que o privilégio se mantenha. Mas, na prática, cada um dos polícias é uma arma dos poderosos contra os que querem mudanças estruturais na sociedade, contra os não integrados, contra os indesejáveis à hora da festa. No limite, dispara-se para o ar, espera-se um ricochete milagroso que nos retire as culpas e reza-se a todos os santinhos para que a bala se aloje mortalmente num Alexis qualquer, a ver se o medo faz a malta atinar.

Isso da violência é uma questão de perspectiva e é preciso ver onde é que ela está. Nos militares indonésios ou nos rebeldes armados timorenses? No exército mexicano ou no zapatista? Nos bloqueios israelitas ou nas pedras da Intifada? Nas políticas de segregação de migrantes ou nos levantamentos dos subúrbios de Paris? No Tarrafal ou nos tanques à porta do quartel do Carmo? Na imposição duma vida vazia, submissa e sem futuro ou nas barricadas de Atenas e outras cidades gregas?

Do nosso ponto de vista, sem qualquer tipo de bom senso, é verdade, e, também verdade, baseando-nos nos princípio que defendemos para a vida em comunidade, a tal ideologia, a resposta é fácil. A violência, nas nossas sociedades, está em todo o lado. Nos migrantes que morrem a tentar chegar a terras onde consigam sobreviver, nos acidentes de trabalho, nos ordenados de 500 euros, na educação orientada para as necessidades das empresas e não das pessoas, na competição entre empresas, Estados e pessoas, no desemprego, no sub-emprego, nas casas insalubres, na valorização do ter e do parecer, no embrutecimento televisivo, na informação manipulada, nessa ideia que diz que "o mundo só anda tendo à frente um capataz" que nos transforma a todos em crianças passivas que mais não fazem do que ouvir contar histórias a justificar a porrada que vão levando.

Mas quando já não se acredita nas histórias, deixa de ser possível dar a outra face.