punk é coisa de gajos?

Resumo da 4ª Tertúlia Punk na CasaViva, 7 março 2013

Música livre e preocupada com as questões de género acompanhou a janta que antecipou a 4ª (e última, para já) Tertúlia Punk da CasaViva, dia 7 de Março, ou o tema proposto não questionasse se é preciso ter colhões para ser punk. Que sim, é preciso, argumentaram uns; que não, o que é preciso é atitude, disseram outros. Elas eram em menor número, como parece manter-se a tendência no punk, mas não deixaram de se fazer ouvir. De todas as tertúlias punk, esta foi talvez a que confrontou maior diferença de opiniões. Por isso mesmo, há quem ache que foi a melhor de todas. Mas há também quem tenha ficado decepcionada. O Punkito esteve muito bem, o chato da noite foi o Alex.

E como quem fala de colhões fala de testosterona, a violência abriu a conversa. Não a violência em si, que disso não houve, se não banais tons de voz violentos recheados de caralhadas, apanágio de quem se quer verdadeiramente punk. Falou-se, sim, da violência enquanto fenómeno a que se assiste em muitos concertos punk, na CasaViva, por exemplo. Não é só coisa de gajos, as gajas dançam com igual violência. Mas não é violência, é forma de expressão. Já estive em rodas de duas horas e foi muito bom; se alguém agride, percebe-se que é para sair. Há uma diferença de comportamento quando uma gaja entra no mosh, comenta uma Maria. Só vai quem quer, lembra o Punkito. Já vi muito mais humanidade numa roda do que em muitas discotecas da filha da puta do mundo inteiro, completa o Alex.

Ponto final na violência, o moderador, também conhecido por facilitador e/ou fascistador, provoca os presentes: Pode um punk de crista ser fofinho? Ouviram-se respostas prontas: sim. Ouviram-se reticências: é difícil, pode ser considerado gay. Voltou a postura da virilidade que o macho gosta de aparentar, abordada já quando se falara de violência. Mas a testemunhar a positiva, vêm à baila punks fofinhos da Grã-Bretanha, anos 90. Queer ultraviolentos nas suas manifestações contra a igreja e a religião cristã e que tinham um lado bué de fofinho e bué de humano, amoroso, sem comportamento machista. O machismo e a sua denominação torna-se assunto. A sociedade é machista, acusa um macho. As mulheres são as transmissoras da forma patriacal da sociedade, contrapõe uma fêmea. Essa conversa não é para hoje, desvia o fascistador, lembrando o encontro feminista marcado para dois dias depois na CasaViva (http://rachafeminista.blogspot.pt/).

A conversa volta a centrar-se no punk. Numa banda de gajas punk os namorados ficam na banca? Risotas machistas. Arnaldo dá o exemplo de uma banda que gerou grande expectativa por ser formada só por gajas e cujo concerto foi uma grande banhada, o que o leva a afirmar que não faz sentido só por serem gajas criarem banda. Havia quem discordasse: punk é uma cultura musical em que faz todo o sentido que haja bandas só com gajas, curto ene bandas de gajas, Não consigo ver a coisa pelo género, gosto da cena, que se fodam as pilas, que se fodam as conas, temos todos cus. A questão do machismo volta em força quando um gajo refere que há espectacularização do aspecto da mulher quando actua: não basta ser cantora, há que ser gostosa. As mulheres estão sempre sujeitas a ouvir bocas machistas quando sobem ao palco. Para estar em certos sítios, uma gaja tem de ter mais colhões, tem de ir buscar uma coisa extra. Atitude. Sobre os namorados nas bancas, disso nem se falou. A conversa acabou por terminar com uma pergunta, retomado que foi o tópico inicial: A violência é necessariamente ruim?

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