ciclo cinema: "Aqui Não Jaz João César Monteiro" - 3ª sessão

2ª, 17 março 21h45 entrada livre
O Último Mergulho 1992 [87'55''] 
(english subtitles) 

O que o jovem Samuel fazia àquela hora da noite, no cais deserto, nunca se saberá ao certo. De facto, quando o senhor Elói - um velho marinheiro reformado - o abordou, ele olhava fixamente as águas do Tejo. Cansado que estava dos seus dias, Elói não podia deduzir de outro modo: Samuel estava ali para pôr cobro à vida...

“Por acaso, escrevo sobre O Último Mergulho no dia em que a imprensa portuguesa publicou as primeiras críticas aos dois primeiros filmes (“O Ar” e “O Fogo”) da série “Os Quatro Elementos” em que João César Monteiro se atirou à Água. Foi uma encomenda da Televisão Portuguesa, depois de uma proposta de Paulo Branco. Os críticos que hoje leio espantam-se (alguns, virtuosamente, indignam-se) que os autores dos episódios já estreados (João Botelho e Joaquim Pinto) se tenham esquecido que estavam a fazer tele-cinema e não cinema. Ainda não vi os ditos filmes. Mas, se tiverem razão, benza-os Deus. Deus, que abençoou certeiramente O Último Mergulho, que é só cinema, todo o cinema e nada mais do que o cinema. César Monteiro não esqueceu a televisão ou (como é que dizem?) o visual. Pelo contrário, muito alembrado deles, virou-lhes as costas. Onde queriam chegadinho, ficou longe. Onde queriam longe, ficou chegadinho. Inventou as distâncias. O cinema é a arte dessa invenção. E é possível ouvir as citações finais do Hyperion - uma em francês, outra em português - como manifestos estéticos, brados guerreiros sobre o cinema e pelo cinema. “Não deixar que a guerra se arraste, por amor à paz”. “Esta terra coberta de luto, desnudada, que eu tanto queria vestir de bosques sagrados e adornar com todas as flores da vida grega” é também a terra pilhada do cinema, em 1992. É também, mas não é só. Como O Último Mergulho é também, mas não é só, um canto fúnebre. O Último Mergulho é um filme sobre o Cinema e sobre Portugal. Como todos os filmes anteriores de João César Monteiro. Este só talvez seja o mais raivoso. Mas tropeço na ternura e tenho menos certezas.”

por João Benárd da Costa em A Muda

ficha técnica


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