Solidariedade com Kukutza III!

O centro cultural Kukutza III, em Bilbau, estava ocupado há 13 anos. Mas, na quarta-feira, dia 21, por ordem do tribunal, a polícia iniciou uma operação para desalojar os ocupantes do que tinha sido anteriormente uma fábrica abandonada.


O Kukutza partilha com muitos dos seus parceiros europeus um espírito de autogestão e um objectivo de revitalizar as zonas que estão sob ameaça de se degradarem até serem desertos urbanos homogeneizados. De facto, a ocupação de espaços abandonados, seja o solo para cultivo ou um edifício para o desenvolvimento dum centro social, é, sem dúvida, muitas vezes, a única estratégia sensata que resta para resistir às pressões dos interesses especulativos e à consequente gentrificação e perda de diversidade cultural. Os ocupantes rejeitam frequentemente, por questões ideológicas, as opções de recurso aos quadros institucionais ou governamentais. Mas, dum ponto de vista prático, essas opções podem ser consideradas de pouca utilidade, uma vez que envolvem o trato com entidades e pessoas que foram vendidas às pressões mencionadas acima.

A ocupação é uma abordagem em termos de acção directa que implica o reconhecimento de que, na actual conjuntura sócio-política, temos que interferir fisicamente (e não pedir a outros que interfiram!), de forma a tentar garantir todos os aspectos do nosso bem estar. Para isso é necessário integrar mecanismos de cooperação e coexistência. Ou, noutras palavras, maximizar a solidariedade mútua na presença dum objectivo partilhado, ao mesmo tempo que se aceita e respeita a diversidade das necessidades individuais.Mas o Kukutza tem sido uma aventura excepcional. Principalmente por causa das suas dimensões. Uma vez que esta velha fábrica tem vários andares e salas, tornou-se naturalmente a casa de muitos colectivos e associações. Como consequência, ganhou um papel central na vida social e cultural de Bilbau e do bairro de Rekalde. Um vídeo de mobilização, lançado na internet, em Julho, quando as ameaças de despejo se tornaram iminentes, acaba com qualquer dúvida que poderíamos ter sobre este facto [1]. O protesto do dia 16 de Julho trouxe 7000 pessoas para as ruas da cidade.

Mesmo assim, e não surpreendentemente, os grandes interesses da propriedade dominaram sobre qualquer outro argumento de interesse público na decisão final do tribunal para ordenar o despejo. O proprietário legal do espaço é a imobiliária CABISA S.A.. A empresa sempre recusou qualquer comunicação com os ocupantes, mas afirmou a um jornal que o seu objectivo era demolir o edifício. O governo local não deu qualquer sinal de que não iria passar uma licença de destruição do local. Mais, tinha, antes, negado a relevância do Kukutza para as gentes de Bilbau. É claro que, tanto o poder judicial como o executivo, pelas suas acções e atitudes, são complacentes na repressão desta iniciativa de base que cresceu até se transformar num grande local de interesse público.

De qualquer forma, o que é que interesse público quer dizer para os que estão no poder? Quando uma barragem precisa de ser construída ou uma linha de alta velocidade precisa de ser criada, inúmeras pequenas casas podem ser legalmente expropriadas, através de uma compensação que não é mais do que uma fracção do valor do que essas famílias anteriormente possuíam. Quando uma imobiliária quer deitar abaixo uma fábrica abandonada no centro da cidade, a questão da posse legal sobrepõe-se a todos os outros e justifica um ataque policial brutal, de forma a pôr na rua dezenas de associações e colectivos.

Nesta situação de profunda injustiça, o Kukutza pode ou não sair vitorioso em si. Mas uma coisa é certa, o espírito dos que ocuparam o Kukutza continuará a viver e dará origem a novas iniciativas em Bilbau e noutros lados, A força demonstrada por milhares de pessoas que vieram para as ruas na tarde do despejo, protestar ou resistir contra o estado policial e tentar reocupar o edifício, reforça e inspira outras pessoas que trabalham noutros projectos, numa altura em que os acontecimentos em Rekalde ainda estão a desenvolver-se.

O colectivo CasaViva quer, aqui, expressar o seu apoio ao Kukutza III e levantar o seu punho em solidariedade explícita com aqueles que resistem nas ruas nos dias e noites que se seguem. Que as vossas barricadas aguentem!

CasaViva
Porto, 22 de Setembro de 2011

[1] Kukutza. Julho de 2011. Vídeo de mobilização para um protesto internacional contra a ordem de expulsão Lipdub Kukutza

Mais info na coluna lateral deste blogue.

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Solidarity with Kukutza III!

The cultural center Kukutza III in Bilbao has been squatted for 13 years. But on wednesday the 21st by order of the court, police initiated an operation to evict the squatters from what had previously been an abandoned factory.

Kukutza shares with many of its European counterparts a spirit of self-management and an objective to introduce life into neighbourhoods that are under threat of degrading into homogenized urban deserts. In fact, the occupation of abandoned spaces, whether it be soil for cultivation or a building for the development of a social center is arguably often the only sensible strategy left in order to resist the pressures of corporate development interests and consequent gentrification and loss of cultural diversity. Squatters frequently reject those options that resort to institutional and government frameworks on ideological grounds. But just from a practical perspective, such options may be considered of little use as they involve dealing with the entities and people that were sold out to the above mentioned pressures in the first place.

Occupation is a form of direct action approach which implies the acknowledgment that in the current sociopolitical setting we have to physically interfere (and not ask others to interfere!) in order to try guarantee all aspects of our own well-being. For that it is necessary to integrate mechanisms of both cooperation and coexistence. Or in other words, to maximize mutual solidarity in the wake of a shared objective while accepting and respecting diversity of individual needs.

Kukutza has been quite an exceptional adventure. And that it is mainly because of its dimensions. Since this old factory consist of many floors and halls, it naturally came to house many collectives and associations. As a consequence it has gained a central role in the cultural and social life of Bilbao and the neighbourhood Rekalde. A mobilisation video released on the internet in July when the threat of eviction became immenent, kills any doubt one might have about this fact [1]. The protest on the 16h of July brought 7000 people on the city's streets.

Still, however not unsurprisingly, big property interests dominated any other argument of public interest in the decision of the court to order the eviction. The site's legal owner is the real estate company CABISA S.A. The company has always refused any communication with the squatters, but once stated in a newspaper that their objective is to tear down the building. The local government so far has not shown any signal as they would somehow not issue a license for the destruction of the building. Moreover it has previously denied the relevance of Kukutza to the people of Bilbao. It is clear that both judicial and executive powers through their actions or attitudes are complacent in the repression of this grassroots iniciative which has grown to become of large local public interest.

What does public interest mean anyways to those in power? When a dam need to be constructed or a high velocity train line need to be built, numerous small households can be legally expropriated while being compensated only for a fraction of the value of what those families previously owned, just for the sake of public interest. When one real estate company wants to tear down an abandoned factory in the middle of a city, the issue of legal ownership prevails above all else, and justifies a brutal police attack in order to put dozens of associations and collectives on the street.

In this current situation of profound injustice, Kukutza may or may not reveal itself victorious. But one thing is certain, the spirit of those that occupied Kukutza will continue to live and give origin to new iniciatives in Bilbao and elsewhere. The strength shown by thousands of people that came on the streets in the afternoon during the eviction to protest or to resist against state police and to attempt to reoccupy the building, reinforces and inspires other people working in other projects even as events in Rekalde still unfold.

The collective CasaViva hereby wishes to express its support to Kukutza III and raise its fist in explicit solidarity with those that resisted and still resist. Strenght to your barricades!

CasaViva
Porto, September 22, 2011



[1] Kukutza. July 2011. Mobilisation video for international protest against the eviction order. Lipdub Kukutza

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