a nossa vingança é sermos felizes

ALAMBIQUE já destila

Se a CasaViva tivesse rosto, teria corado quando ouviu dizer que as conversas promovidas pelo CCA conseguem reunir 20 a 30 pessoas no Clube Aljustrelense, em Aljustrel, Baixo Alentejo. No Porto, uma conversa anunciada na CasaViva dificilmente atrai uma dezena de pessoas. Como aconteceu no sábado, dia 6, a propósito do lançamento de ALAMBIQUE.

ALAMBIQUE é uma nova publicação, confeccionada pelo Centro de Cultura Anarquista (CCA) Gonçalves Correia, em Aljustrel, e que reflecte o seu primeiro ano de actividade no Clube Aljustrelense, onde o projecto assentou arraiais. “A necessidade de dar a conhecer o que fazemos, de sair portas fora tornou-se ao longo deste tempo algo imperativo. Não apenas com vista a um alcance maior, mas para quebrar com a passividade de nos fecharmos num getho, numa tribo, com os mesmos de sempre”, lê-se no editorial, que termina assim: “Nesta nossa (des)construção afirmamos não apenas a crítica ao insaciável capitalismo e autoritarismo que nos rodeia. Queremos também, informal e livremente, que a nossa festa e o nosso companheirismo não seja a alienação que nos querem impor, mas a revolta com que queremos aprender a viver”.

O anarquismo é tema de seis das 20 páginas de ALAMBIQUE (formato A4, p/b). Duas a fechar, dedicadas a António Gonçalves Correia (1886-1967), cuja vida se cruza e se funde com o emancipar das ideias anarquistas, com as lutas anarco-sindicalistas das minas de Aljustrel, São Domingos ou Lousal, com as lutas dos camponeses do Alto ao Baixo Alentejo e com os vários grupos e jornais anarquistas de Portalegre, Évora, Odemira ou Cercal do Alentejo. Caixeiro viajante, vegetariano e tolstoiano, a sua figura perdura ainda na memória de muitos alentejanos.

As outras quatro páginas a propósito do anarquismo foram retiradas de “Days of War, Nights of Love. Crimethink for Beginners”, 2001 CrimethInc Collective (USA), e correspondem a um artigo intitulado “Ressuscitando o anarquismo como uma abordagem pessoal à vida”, que desmistifica os fantasmas que o tema ainda desperta, com afirmações tão simples quanto a seguinte: “Na nossa vida diária, somos todos anarquistas. Sempre que tomamos decisões por nós mesmos, sempre que assumimos a responsabilidade pelos nossos actos em vez de os deferir a algum poder superior, estamos a pôr o anarquismo em prática.”

Os transgénicos são outro tema que se desdobra em outros dois artigos: um em defesa da acção directa do movimento Verde Eufémia, em Silves; e uma entrevista a Fernando, da Colher Para Semear, Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais, em que, entre outras questões, são referidos os malefícios para a saúde consequentes do consumo de transgénicos.

Os acontecimentos do 25 de Abril de 2007, em Lisboa, merecem também a atenção especial de ALAMBIQUE, porque “os dias não estão para a inércia”. Por isso mesmo, a contestação da indústria do medo que é a guerra e a manipulação de informação, registando dois debates ocorridos no Clube Aljustrelense: um sobre o assassinato do repórter de imagem espanhol José Couso, em Bagdad, logo após a invasão do exército dos EUA; outro sobre o terrorismo de Estado na Rússia e a guerra na Tchetchénia. Dois assuntos que também passaram pela CasaViva.

Dos temas abordados pelo ALAMBIQUE, falta apenas referir “Em frente pela porta das traseiras”, peça do grupo de teatro algarvio te-Atrito em homenagem a Jacques Prévert (1900-1977), cuja representação foi um sucesso no Clube Aljustrelense. Um trabalho encenado por Rita Neves, interpretado por Leonor Macedo e Pedro Monteiro e musicado por Igor Martins. O público ocorreu de tal maneira que houve quem ficasse à porta sem lugar para assistir ao espectáculo.

Quando haverá um outro espectáculo no Clube Aljustrelense ou quando sairá um novo número de ALAMBIQUE são incógnitas à data. A única certeza é que o CCA Gonçalves Correia quer continuar a fazer jus ao nome que escolheu e assim “estreitar as afinidades libertárias e procurar divulgar através de várias iniciativas públicas e abertas a todos diversas questões e problemas que combatam a apatia, o medo e o conformismo que nos sufoca e dêem viva voz ao protesto social”.

O ALAMBIQUE encontra-se disponível na CasaViva para todos quantos o queiram folhear e ler e/ou, eventualmente, adquirir.

Mais info em: www.goncalvescorreia.blogspot.com/

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