Na Europa, numa altura em que há já muita gente a alimentar-se de caixotes do lixo, enquanto outros escolhem o suicídio perante o espectro da perda de dignidade, numa sociedade em que os direitos à saúde e à educação são já quase uma memória, num regime em que tudo se submete ao poder invisível e absoluto dos mercados, há quem diga que ainda não se pode falar de fascismo, uma vez que se mantém a liberdade de expressão e é dada voz aos movimentos de contestação.
Na Grécia, onde a pauperização é mais aguda, a população, paralisada
e desprezada pela agenda política e pelo colapso geral, tende a
radicalizar-se. E o movimento anti-autoritário, de raiz libertária, tem
crescido enormemente, constituindo, neste momento, uma voz bastante
presente nos movimentos de resistência. O que explica que, para além da
repressão, directa ou indirecta, que sempre sofreu numa base diária,
esse movimento seja, neste momento, o alvo principal da máquina de
defesa do regime.
A promoção que, com a ajuda dos média, é feita aos fascistas do
Aurora Dourada insere-se neste esquema. Esquema esse que teve o seu
primeiro ponto alto quando as ocupas e os espaços autogeridos ficaram
sob fogo intenso.
A repressão é o medo dos poderosos
A ideia é acabar com as estruturas que conseguiam aproximar o movimento do resto da sociedade.
A última explosão foi o fecho do Indymedia de Atenas e das rádio de
contra informação 98FM e Radio Entasi, que, desde 11 de Abril, estão
sujeitos a repressão de bastidores, sem que haja uma questão legal
concreta.
O fecho destes três canais de contra-informação, que têm um impacto social enorme (o Indymedia de Atenas está entre os sites com maior número de visitas diárias), é uma escolha política clara do governo grego, que tenta aniquilar as formas com que uma parte considerável da população grega tenta manter-se informada e acaba por se radicalizar como consequência.
Num momento dum ataque tão forte contra os meios de informação e as
estruturas sociais do movimento anti-autoritário, não nos podemos dar ao
luxo de perder ou recuar. Nem na Grécia, nem noutro país qualquer.
É preciso perceber que foi a inércia política, a viciação no politicamente correcto e a “legalidade” que levaram a este estado de absoluta submissão onde se acha normal que as vozes mais radicalmente opostas ao regime sejam silenciadas “pelo bem de todos”.
É hora de percebermos que o fascismo, de que se diz que não pode
voltar, afinal está aí, ao virar da esquina. E que só não passará se,
cada vez que se manifestar, cada um de nós agir como se um ataque a um
seja um ataque a todos.
Abril 2013