DIY or DIE, opção ou onda?

1ª Tertúlia Punk da CasaViva, 24 janeiro 2013
Acabou de forma abrupta: punk. Começou à punk tuga, duas horas depois do anunciado. Correu muito bem. Participado. Quando a conversa arrancou, pelas 21h00, já a sala de entrada se enchia de gente. Terminou passava das 22h30. O que é isso de DIY or DiE? O famoso grito "Faz tu mesmo ou morre" abriu a série de tertúlias punk em que a CasaViva se aventura para pensarmos no que gira à volta da cultura punk, os seus princípios, as suas influências e as suas práticas no dia-a-dia. O Punkito estava muito chato. 

Em jeito de provocação, o tema foi lançado ao som de folk, como exemplo de DIY fora do punk: afinal quem é mais punk, o Ryan Harvey, que trata da cena dele por ele próprio, da criação à distribuição, ou os Dead Kennedys, com roadies e agências de management? Pois... Até que ponto as bandas punk fazem produções independentes, DIY, por opção ou por falta de alternativa? Se tiverem oportunidade de assinar com uma editora, não preferem? O pessoal pensa muito em ter editora. Mas que editoras assinam contratos com bandas punk? Nos anos 90, as bandas underground editadas, que correram mundo, perderam fãs. Mas todas as bandas querem ser ouvidas e dar concertos. A editora dos Rage Against the Machine é a Sony, é preciso não esquecer, falar de bandas underground e de editoras é muito complicado, o Baunilha parece zangado ao dizer isto. Já se tinham citado outras bandas e conversado bem mais do que estes apontamentos transmitem. Foi então que o moderador, pouco fascistador, fez outra pergunta: A partir de que altura deixa de ser DIY? 

Ouviu-se uma resposta pronta: DIY começou por ser uma necessidade, só passou a opção nos anos 90. Hoje é mais uma opção ideológica do que a alternativa para quem nem trocos tem, como começou por ser, em tempos hippies. E hoje há outras ferramentos, com a facilidade de fazer download do Jamendo*, para quê gastar dinheiro num cd? Por outro lado, poucas bandas se importam com a tradução das letras, sejam em que língua forem, o que mostra pouca preocupação em fazer passar alguma mensagem, a música sobrepõe-se. Um punk não pode ser sinónimo de individualismo, é a denúncia de um sistema que não está bem. Ser punk é uma onda. Punk é a atitude. A atitude é pá piça. Várias vozes ao mesmo tempo, gargalhadas. Mais de 30 presentes. Há os de género e idades variadas, entre os que estavam a nascer no início dos anos 90 e os que tinham então a idade que esses têm hoje. 

Altura de focalizar a conversa, lembrar o DIY. A propósito, falou-se de “gente escondida” que há 20 anos tinha 20 anos, num tempo em que nem se sonhava o que ia ser a internet e que a educação das causas que se iam defendendo implicavam produção da própria informação. Gente ali que afinal não estava escondida e que então fazia fanzines, o grande veículo alternativo. O DIY em pleno.

“Tosse Convulsa” foi o primeiro fanzine que o Ricardo conheceu. Uma folha A4, muito mal copiada de tão fotocopiada que já havia sido. Daí a dedicar-se à coisa não demorou e embrenhou-se, começou a recolher contactos de outras fanzines doutros sítios, a trocar informação e a espantar-se com o fluxo de flyers e outra info que lhe chegava diariamente à caixa postal. Tinha contactos em todos os cantos do mundo. Era uma cena espectacular, diz o Noé. A cena dele começou por ser a poesia, e passou a escrever, fotocopiar e vender, montava banca nos concertos punk... e continua. A propósito de fanzines podia correr-se mundo. Da música punk chegava pouco, só se falava de Sex Pistols, e mal, e de Ramones, horrível, e aparece uma revista a falar dos The Cure, espectacular. Havia lojas em que se conseguiam coisas. Mas a informação não era em bytes. “Campo de Concentração”, fotocopiado e encadernado com capa dura, acervo da biblioteca da casa, percorre mãos.

Mas afinal o que é ser punk? A dúvida existencial desestabiliza, pois então. Um dia fiz um moicano e no dia seguinte estavam a chamar-me punk, tás a ver a onda? Várias vozes aos mesmo tempo. Destaca-se a do Punkito: todos os dias nasce um punk, sem saber. Há bolos, com coberturas coloridas, e suspiros com creme de ovo. 

No tempo das fanzines os próprios concertos eram organizados DIY. E o Noé fazia um grande programa de rádio, muito bom Frágil dixit, música underground, domingo à noite. O tempo das fanzines deu um toque de nostalgia entre quem lhe guarda memórias e que fez mais novos dizer que a conversa teve um momento muito histórico :) 

Pedrinho fala da sua experiência enquanto jovem anarquista no Rio de Janeiro, participando em okupações: para mim, DIY era ocupar e construir a vida. Fala-se do DIY enquanto meio de sobrevivência, como modo de viajar e conhecer o mundo, contrariando a tendência de amigos do facebook, se bem que também seja um veículo para o conhecimento. O DIY depende de como usas. 

Por que a conversa se encadeia, de repente já se falava de punk e política e política e punk, mas o assunto foi travado por ser esse o tema de uma outra tertúlia. Foi mais ou menos então que se fechou a conversa. Conclusões? Volta Punkito, estás perdoado. Mas frescas 20% menos caras só mesmo na próxima tertúlia punk, 7 de fevereiro. 

*Jamendo - site que permite livre acesso a músicas, sob licença Creative Commons ou da Arte Livre

1 comentário :

Anónimo disse...

foi mais ou menos assim, para a próxima espero lá estar outra vez a 7/2, e nas restantes e que se façam muitas e boas.