Leituras partilhadas de:
Os princípios da Novilíngua, de George Orwell
Todo o pensamento está intimamente ligado às palavras, quando o verbalizamos (quer pela fala, quer pela escrita) estamos a dar passos de gigantes para o seu crescimento. Assim, a língua deve ser sempre tomada de assalto para evitar que nos toldem o pensamento!
Temos assistido gradualmente a uma espécie de «limpeza» lexical que participa na re-escrita da História do nosso mundo. Os exemplos estão à vista no longo, tortuoso e genocida percurso da humanidade. No contexto português, basta lembrar os momentos mais horrendos da História e mais recentemente as reformulações feitas no campo das denominações laborais, basta ouvirmos as batalhas entre puristas conservadores e puristas criadores da língua, basta estarmos atentos aos vocábulos utilizados nos media, nos discursos dos dirigentes dos estados, basta ver o empobrecimento geral e programado a nível das políticas educativas da língua que falamos e partilhamos.
A língua pertence aos falantes de uma língua. Ela cresce e re-cria-se no acto da fala. Utilizá-la e conhecê-la é a melhor maneira de a actualizar com vocábulos antigos ou neologismo que descrevem o nosso pensar. É um trabalho individual para partilhar com palavras.
Inebriemo-nos de palavras!
O texto de Palavras ao Alto, Os princípios da Novilíngua, foi escrito em anexo a uma narrativa de ficção distópica e de certo modo visionária, intitulada 1984 por George Orwell, pseudónimo de Eric Arthur Blair (1903-1950), escritor e jornalista inglês. O romance 1984 foi escrito em 1948 (daí o título com os 2 últimos dígitos invertidos) e publicado em Londres em 1949. Conta a história de Winston Smith que trabalha no ministério da verdade, onde participa na re-escrita da história e da língua. Mas, W. Smith apaixona-se por Julia e vai questionar o mundo onde vive...
1984 denuncia o totalitarismo com base nos dois «ingredientes» fundadores das sociedades: a história e a linguagem. A sociedade totalitária descrita em 1984 põe em cena Big Brother, o chefe supremo do partido SOCING, presente em toda a parte através das múltiplas «teletelas» que observam e controlam todos os habitantes de Londres (que neste romance é uma região da Oceânia).
Os lemas que regem este mundo são os
seguintes: A guerra é a paz, A liberdade é a escravatura, A ignorância é a força. Nesta
sociedade promove-se a delação, o ódio e desaconselha-se a amizade e o amor. O partido supremo trabalha na formulação de uma nova língua (daí Novilíngua) para erradicar o «crime pelo pensamento», procedendo à eliminação das palavras que possam permitir um pensamento contrário, portanto há palavras banidas, eliminadas do vocabulário
para dar lugar a outras palavras mais adequadas para manter a população sobre controlo.
Neste breve texto Os princípios da Novilíngua G. Orwell explica como é que esta nova língua funciona e qual o seu objectivo. «A novilíngua foi concebida não para aumentar, mas para restringir o campo do pensamento, propósito indirectamente servido pela redução ao mínimo da gama das palavras.»
Sem comentários :
Enviar um comentário