Quinta, 30 Outubro, 21:00, entrada livre
"Neste momento com a violência de novo no palco iluminado do mundo, para poder ser gozada ao vivo, que sentido tem ainda esse fazer obscuro, enigmático, ao mesmo tempo inútil e sublime, que nós continuamos a chamar poesia?
Porventura a violência e o mal onde enraiza são tão racionais como Kant o pensava e a poesia com que tentamos exorcizá-los a mais absurda e quixotesca actividade humana.
Contudo, esse é o preço que devemos pagar se queremos converter a inumanidade de onde imergimos na única luz que dele nos redime. Mais densa é a noite que nos cerca mais necessário e irrepresível o canto com que recusamos.
A poesia é apenas o homem resistindo à tentação de se deixar silenciar pelo que o nega e se sobrepõe à sua voz. Uma só rosa no meio do inferno é o paraíso inteiro. Mas só os poetas podem inventar a mais inexistente das rosas, a da esperança, quando mundo e vida se desesperam.
Vencidos os soldados de Siracusa sobreviviam recitando versos de Homero. Como nós."
Eduardo Lourenço.
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